domingo, 5 de outubro de 2014

Chennai.

 
 

29 de Setembro - Um dia na estação


De manhã, às sete, estou de novo a tomar banho toda vestida. O céu tambem vestiu uma neblina, mas nem por isso a temperatura arrefeceu.. Não tarda muito, vejo as miudas indianas a descerem os degraus que do rés do chão da guesthouse, já meio degradados, dão acesso à praia. Já não sou a unica dentro de água. Elas chapinham todas contentes da vida, enquanto o pai as vigia da varanda, e pouco depois a mãe já desce tambem para o areal. Trocamos os habituais cumprimentos e sorrisos e volto a sentir o desconforto da roupa molhada e salgada no corpo.

Ao meio dia faço o check-out e apanho um riquexó até à estrada onde há-de passar a camioneta para Chennai. A camioneta vem atolada e consigo um lugar exiguo ao lado de uma familia com uma criança pequena, mas o meu corpo está metade no banco e metade fora. A viagem até Chennai demora cerca de 2 horas, mas metade do termpo é para atravessar a cidade que parece que não tem fim. São ruas, avenidas, viadutos, sempre num frenesim constante de veículos e pessoas. E que a cidade me perdoe se estou a ser injusta, mas fico alividada por não passar tempo neste caos. Aliás, o meu dia bem se podia chamar “Estação de comboios”, tal como o “Aeroporto” do Tom Hanks. Chego às 14.30 à caótica estação central e o meu objectivo é pernoitar aqui mesmo para às 6 da manhã do dia seguinte partir no Shatabdi Express até Mysore, já no Estado de Karnataka.

Carreagadissima com as mochilas dou algumas voltas à estação, perguntando aqui e ali, até dar com os Retiring Rooms que são no piso superior. O funcionário anuncia que os quartos privados estão cheios e para ficar no dormitório, só devo aparecer por volta das 19 horas.

Primeira coisa a fazer: livrar-me do peso e procuro o depósito de bagagens, mas dizem-me que primeiro a bagagem tem que passar pelo tapete da segurança electronica, que é do outro lado da estação. Cumprido o procedimento, liberto-me finalmente da mochila e vou sentar-me na sala principal, uma divisão enorme repleta de pessoas que stão sentadas nas cadeiras, estendias no chão, em pé, de um lado para o outro...uma verdadeira massa humana que chega a confundir os sentidos. Como aqui não há ar condicionado, depressa me sinto desconfortável sentada na cadeira que ainda por cima é escorregadia. Depois de deambular mais um pouco pela estação descubro uma sala reservada com ar condicionado a pagantes, 30 rupias por hora e as seguintes 20 rupias cada. Fico aqui uma hora e começo a ter fome. Há algunsa sitios onde comer: uma cantina, algumas banquinhas que vendem comida empacotada e salgados e doces com moscas famintas, e descubro um restaurante vegetariano com piso superior com cadeiras e mesas com bastante gente. Há muita gente, quer sentada nas mesas a devorar thalis com as mãos, como empregados que eficientemente vão servindo e recolhendo loiça. Peço um biryani de vegetais que vem bastante picante. Entretanto sentam-se à minha mesa a Issta e o marido que são de Chennai. A Issta mete logo conversa comigo, com as perguntas habituais, como me chamo, o que estou a fazer na India, se estou sozinha, se estou a gostar, qual a minha profissão...

Dou mais algumas voltas e a confusão de gente é efectivamente grande. Estamos no Dushera, um festival religioso que dura 10 dias e muita gente está de viagem. Quando são quase sete horas.vou recolher a mochila e volto a subir ao segundo piso, e o funcionário diz-me que não estou a cumprir com o que me disse, estar ali às 20 horas...Das 19 passou para as 20. Fico desmotivada. Indica-me a sala de epsera logo ali ao lado, só para mulheres. Arrasto-me até lá, mais uma sala com cadeiras de plástico, mas uma varanda muito agradável, mas está tanto calor que me sento na cadeira à espera. As mulheres conversam, carregam telemóveis nas tomadas à entrada da sala, dormem e há a Merin de 14 anos que me vem pedir àgua. Ficámos a conversar até às 20. A Merin diz que mãe que està deitada mais à frente a dormir foi furtada na viagem de comboio anterior enquanto dormia. Agora estão mais umas quantas horas à espera de outro comboio. Estão a aproveitar os feriados religiosos para viajar até Kerala para passear e visitar familia, ela, a mãe, o pai que está lá fora e a irmã de 16 anos que está na varanda. A Merin parece ser muito inteligente, gosta muito de ler e faz-me questão de mostrar os 2 livros que trouxe consigo e ainda confidencia que ali perto da estação há um par de ruas só com livrarias. “É uma tentação!”, exclama entusiasmada. Quer saber se no meu País, podemos escolher os namorados e diz que na India não é possivel, mas que tem sorte, porque os pais são de mente muito aberta e por isso ela não vai ter esse problema, aliás confidencia-me ainda em tom mais baixo que já teve um namorado lá na escola, mas que agora não se falam. Ficamos mais de 1 hora à conversa.

Às 20 horas consigo finalmente o quarto no dormitório, um cubiculo com uma cama muito estreita encostada à parede, por baixo de uma ventoinha e um aparelho de ar condicionado, separado do outro cubiculo por uma parede que não chega ao tecto. Para alem dos cubiculos, há a casa de banho e a sala do chuveiro. Por 265 rupias, não podia exigir mais...
 
 
 
Camioneta de Mamallapuram para Chennai

 

Estaçao Central em Chennai


 

Issta e o marido no Restaurante da Estação




 


Estação de Chennai


 

Dormitório na Estação de Chennai

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