29 de Setembro - Um dia na estação
De manhã, às sete, estou de novo a
tomar banho toda vestida. O céu tambem vestiu uma neblina, mas nem
por isso a temperatura arrefeceu.. Não tarda muito, vejo as miudas
indianas a descerem os degraus que do rés do chão da guesthouse, já
meio degradados, dão acesso à praia. Já não sou a unica dentro de
água. Elas chapinham todas contentes da vida, enquanto o pai as
vigia da varanda, e pouco depois a mãe já desce tambem para o
areal. Trocamos os habituais cumprimentos e sorrisos e volto a sentir
o desconforto da roupa molhada e salgada no corpo.
Ao meio dia faço o check-out e apanho
um riquexó até à estrada onde há-de passar a camioneta para
Chennai. A camioneta vem atolada e consigo um lugar exiguo ao lado de
uma familia com uma criança pequena, mas o meu corpo está metade no
banco e metade fora. A viagem até Chennai demora cerca de 2 horas,
mas metade do termpo é para atravessar a cidade que parece que não
tem fim. São ruas, avenidas, viadutos, sempre num frenesim constante
de veículos e pessoas. E que a cidade me perdoe se estou a ser
injusta, mas fico alividada por não passar tempo neste caos. Aliás,
o meu dia bem se podia chamar “Estação de comboios”, tal como o
“Aeroporto” do Tom Hanks. Chego às 14.30 à caótica estação
central e o meu objectivo é pernoitar aqui mesmo para às 6 da manhã
do dia seguinte partir no Shatabdi Express até Mysore, já no Estado
de Karnataka.
Carreagadissima com as mochilas dou
algumas voltas à estação, perguntando aqui e ali, até dar com os
Retiring Rooms que são no
piso superior. O funcionário anuncia que os quartos privados estão
cheios e para ficar no dormitório, só devo aparecer por volta das
19 horas.
Primeira
coisa a fazer: livrar-me do peso e procuro o depósito de bagagens,
mas dizem-me que primeiro a bagagem tem que passar pelo tapete da
segurança electronica, que é do outro lado da estação. Cumprido o
procedimento, liberto-me finalmente da mochila e vou sentar-me na
sala principal, uma divisão enorme repleta de pessoas que stão
sentadas nas cadeiras, estendias no chão, em pé, de um lado para o
outro...uma verdadeira massa humana que chega a confundir os
sentidos. Como aqui não há ar condicionado, depressa me sinto
desconfortável sentada na cadeira que ainda por cima é
escorregadia. Depois de deambular mais um pouco pela estação
descubro uma sala reservada com ar condicionado a pagantes, 30 rupias
por hora e as seguintes 20 rupias cada. Fico aqui uma hora e
começo a ter fome. Há algunsa sitios onde comer: uma cantina,
algumas banquinhas que vendem comida empacotada e salgados e doces
com moscas famintas, e descubro um restaurante vegetariano com piso
superior com cadeiras e mesas com bastante gente. Há muita gente,
quer sentada nas mesas a devorar thalis com as mãos, como empregados
que eficientemente vão servindo e recolhendo loiça. Peço um
biryani de vegetais que vem bastante picante. Entretanto sentam-se à
minha mesa a Issta e o marido que são de Chennai. A Issta mete logo
conversa comigo, com as perguntas habituais, como me chamo, o que
estou a fazer na India, se estou sozinha, se estou a gostar, qual a
minha profissão...
Dou
mais algumas voltas e a confusão de gente é efectivamente grande.
Estamos no Dushera, um festival religioso que dura 10 dias e muita
gente está de viagem. Quando são quase sete horas.vou recolher a
mochila e volto a subir ao segundo piso, e o funcionário diz-me que
não estou a cumprir com o que me disse, estar ali às 20 horas...Das
19 passou para as 20. Fico desmotivada. Indica-me a sala de epsera
logo ali ao lado, só para mulheres. Arrasto-me até lá, mais uma
sala com cadeiras de plástico, mas uma varanda muito agradável, mas
está tanto calor que me sento na cadeira à espera. As mulheres
conversam, carregam telemóveis nas tomadas à entrada da sala,
dormem e há a Merin de 14 anos que me vem pedir àgua. Ficámos a
conversar até às 20. A Merin diz
que mãe que està deitada mais à frente a dormir foi furtada na
viagem de comboio anterior enquanto dormia. Agora estão mais umas
quantas horas à espera de outro comboio. Estão a aproveitar os
feriados religiosos para viajar até Kerala para passear e visitar
familia, ela, a mãe, o pai que está lá fora e a irmã de 16 anos
que está na varanda. A Merin parece ser muito inteligente, gosta
muito de ler e faz-me questão de mostrar os 2 livros que trouxe
consigo e ainda confidencia que ali perto da estação há um par de
ruas só com livrarias. “É uma tentação!”, exclama
entusiasmada. Quer saber se no meu País, podemos escolher os
namorados e diz que na India não é possivel, mas que tem sorte,
porque os pais são de mente muito aberta e por isso ela não vai ter
esse problema, aliás confidencia-me ainda em tom mais baixo que já
teve um namorado lá na escola, mas que agora não se falam. Ficamos
mais de 1 hora à conversa.
Às 20
horas consigo finalmente o quarto no dormitório, um cubiculo com uma
cama muito estreita encostada à parede, por baixo de uma ventoinha e
um aparelho de ar condicionado, separado do outro cubiculo por uma
parede que não chega ao tecto. Para alem dos cubiculos, há a casa
de banho e a sala do chuveiro. Por 265 rupias, não podia exigir
mais...
Camioneta de Mamallapuram para Chennai |
Estaçao Central em Chennai |
Issta e o marido no Restaurante da Estação |
Estação de Chennai |
Dormitório na Estação de Chennai |
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